Você faz pesquisa em culinária matemática - um campo não muito explorado ultimamente. Seu orientador teve uma ideia para melhorar o modo de preparo de sobremesas, e você tem trabalhado nela.
Os resultados são ótimos. Vocês vão escrever um artigo sobre a ideia. Pouco mais de uma semana antes do prazo da submissão do artigo, seu orientador vê que dá para generalizar a ideia para qualquer comida. Isso vai mudar bastante o artigo. Vocês passam uma tarde no quadro escrevendo as generalizações, e até conseguem.
Porém, dois dias antes do prazo, você descobre que a generalização não funciona para bananas com ketchup. Mesmo que ninguém ponha ketchup na banana, matematicamente é uma comida válida. De fato, algumas frutas com ketchup não são compatíveis com o modo de preparo proposto por vocês. Contudo, nem você nem seu orientador já comeram frutas com ketchup, e fica muito difícil definir quais frutas, quando recebem ketchup e são preparadas da forma como vocês propõem, se tornam não comestíveis, perdendo uma propriedade fundamental para serem classificadas como comida.
No almoço, você vê que na verdade, nenhuma fruta com densidade suficiente de frutose e que tenha Magnésio, Fósforo e Potássio pode estar com ketchup no modo de preparo de vocês se outras comidas no prato forem pastosas. Voltando para o laboratório, você encontra seu orientador no corredor e conta a ele sua conclusão. É difícil entender sem desenhar, e vocês correm para uma sala com um quadro branco (e você não escova os dentes). Depois de se explicar, vocês testam com todas as frutas que já provaram e aparentemente tudo funciona.
Mas seu orientador fica muito incomodado com o fato de uma comida continuar comestível de forma dependente de outras comidas do prato. Não seria mais natural que um prato pudesse ter qualquer combinação de comidas? Vocês passam duas horas e meia em pé em frente ao quadro tentando tirar a dependência, mas não adianta. Há algo não óbvio por trás de tudo isso.
Ao final da tarde (ainda em frente ao quadro branco), seu orientador lembra que ração para gatos com ketchup (uma comida matematicamente válida) também seria estragada pelo modo de preparo sendo proposto. Vocês acabam decidindo que vão restringir a receita para comidas suficientemente parecidas com sobremesas (que são o que interessam na prática para o mercado), mas vão mostrar que tortas de frango também ficam muito boas (elas interessam para a comunidade científica). Agora você tem que mudar bastante o artigo novamente, em dois dias e uma madrugada. Porém, dado o cansaço, tudo o que consegue fazer é vir ao Facebook postar esta historinha, para depois fazer sua lista de exercícios de Teoria dos Grafos (um outro tipo de prato não muito relacionado a sobremesas, mas que pode ser comido como sobremesa em algumas situações).
Substituindo "culinária matemática" por "Mineração de Padrões Restritos em Relações n-dimensionais", "sobremesas" por "restrições de tamanho", "comida" por "conjunção de restrições monotônicas sobre uma dimensão e restrições quaisquer" e "torta de frango" por "restrição de fechamento", eis a história da minha vida nas últimas semanas. Agora vou comer grafos coloridos.