Era carta bonita
Tão aguardada, selada
Definidora de rumos
Mas quase entregue, foi nada.
Era palavra a ser dita
Tão gentil, já pensada
Geradora de sorrisos
Quase foi; gerou nada.
Era tarefa bendita
Importante e planejada
Professora de valores
Quase aceita, ensinou nada.
Era esperada visita,
À casa já arrumada
Apertadora de laços
Quase feita, apertou nada.
Era chance perfeita
Tanto quanto inesperada
Mudança para toda a vida
Passou e mudou nada.
Era sonho que excita
Presente em toda madrugada
Sonho de empurrar o mundo
Deixado de lado, mexeu nada.
Quase foram. E não foram.
E o nada, que era nada,
Tomou espaço de pouco em pouco.
A flor que não foi regada,
A música não cantada
A tela não pintada...
E agora, José?
Flor morta é adubo
Para o resto do jardim.
A música, se lembra dela?
Que pergunta; claro que sim!
E a tela, agora branca,
ontem branca, como anteontem (em que branca estava)...
Só enquanto quiseres assim.